quarta-feira, 30 de julho de 2008

Poema 7

teu silêncio no meu ouvido
dá a medida mais que exata:
são dois mundos, um para cada.

E quando à tua boca fechada
se junta o teu olhar perdido

só vejo água e mais nada:

travessia de um rio comprido
entre margens de nenhum ruído
na minha canoa furada.



( Por Alan Miranda)

domingo, 27 de julho de 2008

Poema 6





o meu pensamento

não respeita janela

voa com o vento:
ora nesta nuvem
ora naquela


(e também minha garganta
dentro da noite, canta
sua fuga da cela.

é preciso cautela:
pois há muito perigo
se minha boca revela
que durmo contigo
mas sonho com ela.)




( Por Alan Miranda)

Poema 5




todos meus sonhos de infância

(o príncipe e o castelo
o dedo e o anel amarelo)
tão claros, altos e puros

agonizam em dissonância
esmigalhados feitos pó
por brutos de cascos duros

(manada abrupta de um só).





( Por Alan Miranda)

Poema 4




Lanço velhas juras no lixo,

e queimo (da nossa janela)
aquela foto minha e sua:

te entrego sem qualquer capricho
a todos os ratos da rua;

enquanto com passado picho
a noite, as estrelas e a lua.


( Por Alan Miranda)



Poema 3





O de repente é pura bobagem

pois toda viagem
exige preparação.

tudo ficou tão sério
tão sem mistério
como hóstia jogada ao chão

nossos corpos
paralelos
já não se tocam;
e nossos mundos

mudos se chocam.

Mas depois de tanto tempo
naquelas velas do fim
soprou um vento de paz.

Levo você em mim
como um barco que acena
(mas rema)
pra sair do cais.


( Por Alan Miranda)




Poema 2



não sabia


que a água-viva
tinha pés de fogo

que o afogado
usava pés-de-pato

que o amor tem pés de pluma
e o cinismo é um copo raso.

( Por Alan Miranda)


Poema 1




nossa intifada

pedras afiadas
arremessadas
fios de espada
brandindo no ar

você é toda escudo
mas sinto teu lábio,
quando mudo,
transmutar,
(quase perfeito)

em silêncio o grito

recolhido,
epicentro adentro,
no teu peito.

Deita tua lança
no chão duro
que esse moinho
não vale a pena
tua investida

desfaz teu espinho
que além do muro
minha cidade, serena,
jaz rendida.



( Por Alan Miranda)